O que é Filosofia Especulativa? – Parte 03

por Rodrigo Petronio

[Abstract]: “This essay has the following objectives: 1. To investigate the main meanings of the concept of speculative philosophy and their respective aspects, authors and works. 2. Distinguish the general and restricted uses of the concept of speculation and speculative philosophy. 3. Explore the relationship between ontology and speculation in the 20th century. 4. Describe the centrality of the concept of infinity and transfinites to speculative philosophy. 5. Emphasize the importance of cosmology and ontology for the renewal of speculative philosophy. 6. Position the new status that speculation assumes in the media theory entitled mesology. 7. Describe the Transdimensional Topologies (TT) that emerge from this new statute. 8. Define this new speculative philosophy’s statute as Future Oriented Philosophy (FOF). 9. Analyze the main changes in the categories of time, space and causality promoted by this new definition of speculation and speculative philosophy.”

Topologias Transdimensionais (TT)

Entretanto, o que seria a especulação? Qual o papel da filosofia especulativa no organismo da mesologia? Em termos sucintos, a filosofia especulativa é uma filosofia que tem um compromisso radical com a variabilidade do universo-espelho e com as virtualidades da existência. Para tanto, um dos eixos de orientação do pensamento especulativo é o que tenho denominado como Topologias Transdimensionais (TT). A transdimensionalidade se distingue da multi, da inter e da pluridimensionalidade. A multidimensionalidade pressupõe a justaposição de muitas dimensões, mas não necessariamente uma variação estrutural e fatorial das leis de cada dimensão, de acordo com as interações que mantenham entre si. A interdimensionalidade pressupõe alguns planos de intersecção, de cruzamentos e de interconexões entre universos-dimensões. Porém, como o prefixo inter insinua, esta dimensionalidade realça o que ocorre entre e não necessariamente o que decorre das metamorfoses estruturais, substanciais e essenciais dessas intersecções no que diz respeito a cada universo e a cada dimensão. Por seu turno, a pluridimensionalidade pressupõe uma implicação e um imbricação de diversas universos-dimensões. Constitui uma das primeiras emergências dos pluriversos em termos dos mesons. Mas podemos dizer que esse emaranhado pluridimensional de pluriversos inscritos em dimensões distintas, sendo uma primeira emergência, ainda não descreve a totalidade das simetrias entre transversais de todos os pluriversos e dimensões do cosmos e dos mesocosmos. E, por isso, que se torna imperativo recorrermos à quarta categoria: as topologias transdimensionais. Continuar lendo

O que é Filosofia Especulativa?– Parte 02

por Rodrigo Petronio

[Abstract]: “This essay has the following objectives: 1. To investigate the main meanings of the concept of speculative philosophy and their respective aspects, authors and works. 2. Distinguish the general and restricted uses of the concept of speculation and speculative philosophy. 3. Explore the relationship between ontology and speculation in the 20th century. 4. Describe the centrality of the concept of infinity and transfinites to speculative philosophy. 5. Emphasize the importance of cosmology and ontology for the renewal of speculative philosophy. 6. Position the new status that speculation assumes in the media theory entitled mesology. 7. Describe the Transdimensional Topologies (TT) that emerge from this new statute. 8. Define this new speculative philosophy’s statute as Future Oriented Philosophy (FOF). 9. Analyze the main changes in the categories of time, space and causality promoted by this new definition of speculation and speculative philosophy.”

Figuras da Temporalidade

William Walsh (1968) baseia-se em uma perspectiva segundo a qual a filosofia especulativa seria um tratamento especial dada à temporalidade e à  historicidade. Não seria uma maneira de compreender a história da filosofia, mas uma doadora de modelos estruturais para a filosofia da história. Walsh situa Giambattista Vico, filósofo da história e criador de um novo modelo de compreensão dos ciclos históricos a partir do corso e do ricorso, do fluxo e do refluxo, como um dos primeiros porta-vozes dessa visão sobre o passado. Não por acaso a Ciência Nova é uma revolução nas ciências humanas e um divisor de águas na compreensão da temporalidade, dos mitos e da racionalidade. Pioneiro nas reflexões sobre o tempo humano, Vico foi lido e incorporado por nomes tão diversos quanto Marx, Isaiah Berlin e Lévi-Strauss. Nesses termos, a filosofia especulativa não seria um instrumento descritivo, compressivo ou hermenêutico dos eventos, em busca de um sentido. Especular seria operar a partir de categorias capazes de pensar as condições de possibilidades da totalidade dos eventos no tempo. E, mais do que isso, especular seria uma capacidade de reconhecer um certo fundo de determinação e liberdade por meio dos quais os processos históricos deixam de ser apenas irreversíveis e adquirem uma lógica interna em suas manifestações. Essa lógica pode ser extrapolada com o intuito de gerar padrões e regimes temporais recorrentes e, em certa medida, compossíveis e previsíveis. Ora, nessa chave, a conexão poderosa entre especulação e historicidade, pensamento e tempo profundo pode ser entendida como uma das matrizes de alguns autores basilares do pensamento moderno, como Hegel e o Idealismo alemão, Nietzsche e Freud. Inclusive pensadores tão diversos quanto Marx e Oswald Spengler podem ser identificados como pensadores especulativos. No século XX, Robin Collingwood (1978), Karl Löwith (1991), Reinhart Koselleck, Alexander Kojève, Fernand Braudel seriam expoentes da especulação. E, hoje em dia, a arqueologia dos media estaria em completa consonância com esse modelo especulativo-temporal. Continuar lendo

O que é Filosofia Especulativa?– Parte 01

por Rodrigo Petronio

[Abstract]: “This essay has the following objectives: 1. To investigate the main meanings of the concept of speculative philosophy and their respective aspects, authors and works. 2. Distinguish the general and restricted uses of the concept of speculation and speculative philosophy. 3. Explore the relationship between ontology and speculation in the 20th century. 4. Describe the centrality of the concept of infinity and transfinites to speculative philosophy. 5. Emphasize the importance of cosmology and ontology for the renewal of speculative philosophy. 6. Position the new status that speculation assumes in the media theory entitled mesology. 7. Describe the Transdimensional Topologies (TT) that emerge from this new statute. 8. Define this new speculative philosophy’s statute as Future Oriented Philosophy (FOF). 9. Analyze the main changes in the categories of time, space and causality promoted by this new definition of speculation and speculative philosophy.”

 

Especular

A obra A Queda do Céu é um dos mais importantes tratados da metafísica do século XXI. Composta pelo xamã ianomâmi Davi Kopenawa em colaboração com o antropólogo Bruce Albert, temos aqui a cosmologia ianomâmi descrita e explicitada ponto por ponto. Um dos conceitos-operadores centrais dessa cosmologia são os xapiri. Os xapiri são nano-entidade dinâmicas que constituem todo universo, tudo o que existe. Eles se revelam ao xamã sob a forma de nano-humanos, girando sobre espelhos. A dinâmica relacional desses infinitos nano-espelhos transumanos em movimento produz a totalidade do universo. Esta cosmologia pode ser descrita rigorosamente como uma monadologia ianomâmi. Ou Leibniz é que seria um ianomâmi da filosofia europeia? O importante é conceber essa noção de nano-universos e de nano-espelhos como matrizes instauradoras de todas as esferas do ser e do cosmos. Como usinas do real, como diria Nicolai Hartmann. E aqui começamos a adentrar nossa questão central. O termo spec do latim pode ser traduzido como especulação. Etimologicamente, é a raiz de speculum, que significa espelho e, por sua vez, deriva de specere, que significa olhar e observar. O verbo especular seria em termos literais espelhar. Outro sentido adjacente importante ocorre em relação ao termo espécie. A definição de espécies ocorre por meio da observação e, ao mesmo tempo, designa uma certa categorização do observado que produz uma taxonomia: uma distinção dos seres. Outro termo correlato é caverna (spéleos). A espeleologia é a ciência de investigação das cavernas ou de quaisquer ambiente profundos da Terra, como o oceano abissal. Entende-se assim por caverna não apenas a constituição rochosa da geologia, mas quaisquer espaços virtuais desconhecidos. A raiz de spec também se vincula a spe, que significa esperança. Outras línguas retêm a morfologia do latim, como o alemão (Spiegel), o dinamarquês (spejl), o iídiche (שפּיגל, shpigl) e o basco (ispilu). Mesmo em línguas cujo termo espelho deriva de outros radicais, como em inglês (mirror), em francês (miroir) e em árabe (مرآة, mara), parece haver uma convergência para o sentido da raiz latina mir, a mesma de miragem, maravilha e mirar (observar). Uma investigação mais detalhada precisaria levantar em que medida esta estrutura comum tem suas origens na estrutura indo-europeia das palavras com prefixo m’, de onde derivam também mito (mýthos), mudez (mutus), imitação (mimesis) e mundo (mundus), mas este é um campo arenoso e não é meu objetivo me mover por ele aqui. O que me interessa é, por meio de analogias e por meio desta espectral espeleologia do conceito, definir a filosofia especulativa como uma filosofia-espelho e a cosmologia especulativa como a investigação de um universo-espelho. E levantar em que medida a potência deste conceito-imagem pode revelar campos ônticos e epistêmicos inesperados, em um percurso abdutivo e heurístico. Continuar lendo