Gamificação, um ideal de aplicação?

por Fabrício Fava

[Abstract]

“About two months ago was published online a video of a 99U Anual Conference talk placed at New York on 7-9th June. Presented by designer Natasha Jen the presentation had a provocative title: Design Thinking is Bullshit. This file led me instantly to Ian Bogost’s article Gamification is Bullshit – this text was first wrote as a critique of Wharton’s Gamification Simposium and got an extended version latter.”

Há cerca de dois meses foi publicado online o vídeo de uma palestra ministrada na 9ª Conferencia Anual da 99U ocorrida entre os dias 07 e 09 de junho em Nova Iorque. Ministrada pela designer Natasha Jen, a apresentação trazia um título provocativo: Design Thinking is Bullshit (2017). O encontro com esse arquivo lembrou-me, de maneira imediata, do texto Gamification is Bullshit (2015), de Ian Bogost – inicialmente escrito como uma crítica a um Simpósio de Gamificação ocorrido em Warthon (2011) e publicado posteriormente com mais profundidade.

Essa aproximação instantânea me veio como um gatilho interessante para debater acerca de um entendimento comum da Gamificação centrado num possível ideal de aplicação ou conjunto de convenções do aplicar.

Desde o meu doutorado percebo que a apreensão e o exercício da Gamificação pedem não apenas uma reflexão acerca das lógicas dos jogos, mas das implicações entre jogos, criatividade e design. Dessa maneira, na tese (FAVA, 2016), trabalho a Gamificação através de uma perspectiva do design ligada aos viés semiótico peirceano e a teoria sistêmica (2007). Assim, é importante discorrer inicialmente sobre algumas questões que parecem passar despercebidas quando se trata da relação entre o Design Thinking e a Gamificação. Continuar lendo

O filósofo e o artesão

filo_artes

por Eduardo Camargo

  1. Carpintaria filosófica

No capítulo 4 de seu livro Alien Phenomenology, Bogost (2012, pp. 85-111) estende o termo carpintaria para além do ofício do artesão e o direciona para o mundo da produção acadêmica. Ele sustenta que o resultado do trabalho intelectual, principalmente nas áreas das humanidades, restringe-se à publicação de artigos e livros e, como efeito desta obsessão, aponta dois problemas recorrentes: primeiro, com sua tendência à obscuridade, à incompreensibilidade e ao uso de jargões, normalmente, o acadêmico é um mau escritor; segundo, considerar que apenas através da escrita podemos acessar o mundo pode ser perigoso, pois, enquanto damos atenção exclusiva à linguagem, garantimos nossa ignorância de tudo o mais. Então, seria a escrita o melhor e mais apropriado meio de expressão para o trabalho acadêmico? Ou, mesmo, seria o único? Continuar lendo

Caminhos para uma arte especulativa

por Clayton Policarpo

google_sonhosFigura 1: Imagem criada pelo sistema de redes neurais do Google, 2015

1- Notas sobre uma Nova Estética

Um dos principais dilemas na pesquisa em arte contemporânea é a natureza da ação. É a constante renegociação entre autor, obra e espectador que constitui a experiência estética (Grossman, 1996, p. 35). O artista, antes tido como o agente intermediador entre o mundo fenomenológico e sua representação, delega ao público a responsabilidade de completar a obra. O espectador já não é tão somente o sujeito que contempla, mas passa a integrar a ação que constitui o momento arte, contribuindo ao ato criativo. 

Novas tecnologias introduzem novos hábitos culturais e, como em outros períodos, é conduzida à arte a incumbência de mediar e alçar novos limites que ampliem a compreensão das alterações geradas pelas possibilidades que emergem. Ocorre que com a introdução de equipamentos e sistemas, deveras mais complexos, a agência de criação passa a evidenciar o papel de atores de natureza diversas (smartphones, GPS, objetos inteligentes, bancos de dados, algoritmos, etc.). Ao tempo que a arte contemporânea, ao instaurar-se em um meio de constante negociação entre o conceitual e o sensorial, favorece novas perspectivas críticas que prezam por evidenciar a participação de agentes não-humanos em sua efetivação. Neste contexto levantamos algumas questões: poderia a experiência estética ser construída e percebida por mecanismos não-humanos? Uma máquina é capaz de se expressar ao ponto de produzir uma obra de arte? Continuar lendo