Exposição Espectros Computacionais 360º (EC360)

luiza1Espectros Computacionais 360º, Instalação Imersiva, Exposição ArtSonica, Centro Cultural Oi Futuro, Luiza Helena Guimarães, 2019

 

por Luiza Helena Guimarães

[Abstract] “The exhibition “Espectros Computacionais 360º” (EC360), combines two interrelated works: an immersive audiovisual installation, and a VR environment. They were developed during the  ArtSonica / LabSonica / Oi Futuro residency, and are exhibited at the Oi Futuro Cultural Center in Rio de Janeiro, Brazil. 

The concept is a mixing of aspects concerning neuroscience, signal processing physics, and digital technologies. The EC360 equates light and sound frequencies and waves based on the sonification of brain’s electromagnetic resonance images. The vibrational pattern of the brain, together to the perceived vision and human hearing, is used to assemble the immersive experience. EC360 thus approximates neuroscientific research which, together with bioengineering, AI and robotics, can show mental activity, expressed by brain waves and rhythms. However, they are directed to the field of human sensations, a territory of the art domain.” 

Que “espectros” se irradiam e pairam nos maquinismos entre o humano e o tecnológico? 

Entre cérebros e mentes, hardwares e softwares, como se produz o futuro?

Equipe[1]

“Espectros Computacionais 360º” (EC360) reuniu uma equipe transdisciplinar formada por: Luiza Helena Guimarães (Brasil), artista multimídia, pesquisadora, idealizadora e diretora do projeto; Ricardo Dal Farra (Argentino/Canadense), pesquisador, professor, músico, compositor da música eletroacústica; João Silveira (Brasil), artecientísta, divulgador; Randolpho Julião (Brasil), analista de sistemas, desenvolvedor de VR.

Conceito: arte, neurociências, física de processamento de sinais e tecnologias

A exposição “Espectros Computacionais 360º”, EC360, apresenta duas obras: Instalação Imersiva e Ambiente VR.

Elas entrelaçam aspectos da neurociência, da física de processamentos de sinais e das tecnologias digitais. Partido da sonificação de imagens de ressonâncias eletromagnéticas cerebrais, EC360 equipara frequências e ondas luminosas e sonoras que, percebidas visão e da audição humana, agem sobre o padrão vibracional do cérebro.

EC360 aproxima-se, assim, de pesquisas neurocientíficas que, reunidas a bioengenharia, AI e robótica, são capazes de mostrar a atividade mental, expressa por ondas e ritmos cerebrais, em tempo real. No entanto, dirigem-se para o campo das sensações humanas, território de domínio da arte.

“Escutar imagens e ver sons”

Os ambientes de EC360 são perpassados pela ideia de “Escutar imagens e ver sons”.

Imagens de ressonâncias eletromagnéticas cerebrais foram submetidas à tecnologias de sonificação dados, tendo por resultado um mapeamento que denominei de ESCM (Eletro-Sônico-Cérebro-Magnético). Se por meio dessa metodologia obtivemos estruturas e objetos sonoros originários de cérebros humanos, foi através dos conhecimentos da arte sonora que Ricardo Dal Farra compôs as peças eletroacústicas, em multicanais, integrantes dos ambientes imersivos de EC360.

Partindo de processos de investigação médico-científica de nossos cérebros, ou seja, de cérebros inicialmente transformados em imagens, como de ressonâncias e tomografias, chegamos até a escuta de suas estruturas anatômicas. Isso acontece por meio da obra eletroacústica espacializada e em 3D que, reunida a outros elementos, dá corpo a poética e a estética de EC360.

Assim, imagens científica cerebrais, sonificadas e mapeadas, mesclam ciências e tecnologias para a criação dos ambientes imersivos, cinematográficos e, por vezes, interativos de EC360.

Espectros…

Por “espectros”, refiro-me ao espectro luminoso e sonoro que constituem as ondas eletromagnéticas, mas, primordialmente, ao universo das sensações humanas, que incluem as nossas memórias e afetos.

Antecedentes

As obras são a continuidade de instalações com ressonâncias eletromagnéticas de cérebros humanos que realizei em 2002, “Senha: teu limite”, e em 2004, “Catedral de Cérebros”, devendo muito a elas em termos de estética e poética. Também de uma performance, “Mente que Mente”, 2006, Museu da República, RJ.

Essas pesquisas desenvolveram-se em paralelo a outros trabalhos acadêmicos e artísticos relativos a criação de dispositivos artísticos relacionados ao campo da ciência, das tecnologias e do cinema do século XXI. Continuar lendo

Inteligência Artificial e o fascínio das máquinas criadoras

por Clayton Policarpo

[Abstract]

“As algorithms and machines threaten to take on works performed by humans, artistic creation emerges as another candidate for technology automation. The present paper proposes to deal with the approximations between Artificial Intelligence and Art from approaches in the field of computational creativity, theories of art and examples of works that use data processing technologies.”

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Figura 1. Detalhe do CloudPainter, 
projeto vencedor do RobotArt 2018. 
(http://www.cloudpainter.com/)

Introdução: no princípio era o código…

Diante do surgimento de máquinas capazes de processar grandes quantidades de dados e um investimento de capital sem precedentes, a Inteligência Artificial (IA) tem se estabelecido nos últimos anos no topo das discussões. A evolução de algoritmos de Deep Learning e Machine Learning parece suplantar as expectativas futurísticas que eram atribuídas às tecnologias de realidade virtual e internet das coisas. À medida que algoritmos e máquinas ameaçam assumir tarefas até então realizadas por humanos, a criação artística desponta na posição de mais uma candidata à automatização. Em meio a cenários de utopias e distopias, o debate candente acerca das máquinas pensantes e suas propriedades criativas adentram os territórios da arte.

É certo que não há consenso sobre a capacidade de máquinas se expressarem artisticamente. Embora existam redes neurais que podem reproduzir um Van Gogh , ou algoritmos que compõem sinfonias completas, não podemos afirmar que o resultado de tais experiências seja, de fato, arte. Historicamente, a produção em arte e tecnologia sempre esteve diante de entraves quanto à legitimidade das obras criadas e/ou a natureza da ação. Tais manifestações não contam com disposições preestabelecidas para os artistas, tanto menos para os críticos (SANTAELLA, 2016, p. 231). Continuar lendo

Performatividade na arte: entre o corpo e o objeto[1]

por Clayton Policarpo 

[Abstract]:

“The text proposes an analysis of the relationship between artist and art object in contemporary works that use performative practices as a constituent element. Since performance has established itself as one of the most important paradigms of the 21st century, having been incorporated by science, politics, sociology, philosophy, we revisit the field of arts for to raise understanding of the term. The focus of research is the different agency levels of the performative object, and as work art that use the provisional, real-time action and materiality, makes use different elements in the construction of aesthetic experience.”

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Faust, 2017, de Anne Imhof. 
Instalação premiada com o Leão de Ouro na Bienal de Arte de Veneza.

 

Nas últimas décadas, a arte da performance passou por um processo de institucionalização que permitiu uma visibilidade enquanto prática específica, ao mesmo tempo que buscou separá-la de outras dimensões que não se autodefinem como tal, o que possibilitou um espaço de destaque no cenário artístico e a emergência de toda uma rede de estudos e pesquisa na área. A premiação da obra Faust, 2017, da artista alemã Anne Imhof, na 57ª Bienal de Veneza, definida pelo júri como uma “poderosa e inquietante instalação, que traz à tona muitos questionamentos sobre o nosso tempo”[2], coroou a prática como uma manifestação estética indispensável para se pensar o contemporâneo.

Arrisco, aqui, aproximações e leituras que, ao exceder as referências comumente utilizadas, denotam uma recorrência da performance em territórios díspares. O percurso adotado incide não só nos paralelos entre prática performativa e pesquisas científicas e socioculturais, como também propõe uma investigação dos diferentes níveis de agência do objeto performativo na arte. Esperamos traçar caminhos que corroborem na elucidação de dois aparentes paradoxos incutidos nos confrontos levantados: a (im)possibilidade de um aspecto não-humano da arte, e a performance para além do corpo do performer humano.

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Arte contemporânea – O objeto como dejeto

por Sueli Andrade

Contemporary art – the object like a waste

[Abstract]

“The present text aims to discuss one of the possibilities of reading the object in the contemporary artistic area. The contemporary art discussion in this article is inspired by psychanalysts Jacques-Allan Miller and Gerard Wajcman and the positioning of the object, and a new gaze at it is provided by Didi-Huberman.”

Debater sobre arte é sempre um tema que demanda discussões complexas nos estudos midiáticos, culturais e sociais. Um dos aspectos que se pode optar para tal discussão é justamente observar a forma como cada movimento artístico insere o seu objeto no meio. Pode-se comprovar tal afirmação quando evocamos o exemplo do Barroco. Este movimento artístico cultural europeu oriundo dos séculos XVII e XVIII tomou o objeto como algo dividido entre a luz e a escuridão, a fé e razão, trazendo em si um paradoxo, um puro contraste por justamente fazer parte de uma transição significativa do cenário politico e econômico que vivia a Europa – a se destacar a cena da mudança no poder e influência da Igreja Católica no mundo. Após séculos de hegemonia, novas religiões, como o Protestantismo, pareciam se moldar melhor ao modelo de produção pré-industrial capitalista e que, portanto, estariam mais aptas a se expandir junto com o projeto da modernidade. Mas é na arte contemporânea que o problema da relação com o objeto de arte como um objeto perturbador se torna proeminente. Como pensar essa relação? É o que se pretende discutir a seguir.

Uma das formas de se pensar essa relação pode ser encontrada no trabalho do historiador da arte e psicanalista francês Didi-Huberman. O teórico defende a necessidade de se reorientar a forma de se olhar os objetos de arte. Continuar lendo

Realismo Especulativo vs. Deleuzeanismo: reflexões sobre a arte

por Márcia Fusaro

Speculative Realism vs. Deleuzeanism: reflections on art

[Abstract]

“Deleuze devoted a major part of his philosophy and reflections to art. He is acknowledged to have been a major influence upon speculative realism. In this work I propose certain reflections on possible proximities to, and distances from, art as seen by Deleuze – the result of inchoate dynamic interactions between affects and percepts – and art as seen by twenty-first-century speculative realists, above all Graham Harman, one of the founders of the movement, and Timothy Morton, alongside Harman, one of the best-known thinkers in the movement in its connections to contemporary art.”

Untitled1Our Product – Pamela Rosenkranz (Bienal de Veneza, 2015)
Untitled2Nebulosa do Véu – Imagem do Telescópio Hubble (NASA)

Desde que tomei contato com a proposta filosófica do Realismo Especulativo, tenho me interessado em saber como esse novo movimento considera a arte. Afinal, como entender a arte para além da manifestação do binômio sujeito-objeto? As artes contemporâneas & o realismo especulativo, publicação de Lucia Santaella, postada em 26 de abril de 2016, aqui no Transobjeto, trouxe algumas luzes sobre essa abordagem, da qual parto para outras reflexões. Continuar lendo

As artes contemporâneas & o realismo especulativo

por Lucia Santaella

Contemporary arts & speculative realism

[Abstract]

“Why has speculative realism been the subject of interest of contemporary art, from the part of theoreticians, critics, and curators of this art? That is a question which arouses curiosity and even perplexity. This post presents an overview of speculative realism followed by a presentation of contemporary art from the dusk of modernism on. The increasing complexity of the arts also points to their growing ontological instability. The consequent loss of pre-determined parameters to cope with these challenges results in the search of renewed ideas which can be found in the dizzying mise en abyme of object oriented ontology.”

Nalini Malani
Nalini Malani, Documenta de Kassel – 13, 2012

Por que o realismo especulativo tem sido objeto de interesse das artes contemporâneas, tanto dos teóricos quanto dos críticos e curadores dessa arte? Eis aí uma questão que desperta curiosidade e, para alguns, provoca até mesmo perplexidade.

Para os leitores que estão chegando apenas agora ao blog do Transobjeto, vale a pena apresentar com bastante brevidade o que vem a ser o realismo especulativo, muito embora essa questão já tenha sido objeto de vários posts anteriores de autores diferentes, neste mesmo blog. Não nos esqueçamos que esse é o tema central deste blog. Por isso, no primeiro texto de minha autoria, postado, em 30 de julho de 2013, sob o título de “Internet das coisas, uma nova ontologia e epistemologia do objeto”, dediquei uns poucos parágrafos a esse novo movimento filosófico, logo acompanhados, no meu post seguinte, por um rápido detalhamento. Uma introdução mais substancial pode ser encontrada no cap. 1 do livro Comunicação ubíqua. Portanto, isso me autoriza a passar muito rapidamente aqui pelo realismo especulativo para entrarmos na discussão da questão acima enunciada. Continuar lendo