Notas para se pensar as bolhas online a partir de Peirce

por Juliana Rocha Franco

[Abstract]:

“It is well known that the idea that Facebook’s algorithm promotes filter bubbles. However, a study conducted by the University of Michigan and published in the Science journal showed how the user interferes with the way the algorithm behaves. According to the study, the order in which users view stories in the News Feed depends on many factors, including how often the viewer visits Facebook; how much they interact with certain friends, and how often users clicked on links to certain Sites in the News Feed. If the algorithms are not the most important element in filtering the content, why would embubblement happen? Our hypothesis is that certain modes of fixation of belief, as pointed out by the American philosopher Charles Peirce, stimulates the creation of bubbles, due to the cognitive inclination they promote and lead to preferring situations where the beliefs will be confirmed, thus avoiding the state of doubt.”

É já lugar comum afirmar que sites e serviços de redes sociais e ferramentas de busca nos oferecem uma visão personalizada criada através de algoritmos de empresas de tecnologia. Quando você faz uma pesquisa no Google, por exemplo, os resultados obtidos serão diferentes, dependendo do que a empresa conheça sobre você. Na maior parte do tempo, essa filtragem é útil: botânicos e cozinheiros obtêm resultados de pesquisa muito diferentes para a palavra “manga”, por exemplo.

No livro O filtro invisível, Eli Pariser (2012) utiliza o termo bolha para se referir aos algoritmos utilizados, por exemplo, pelo Facebook para filtrar e classificar as postagens que aparecem em cada timeline. Nesse caso, o que é chamado de bolha é proporcionado pelos filtros invisíveis do conteúdo que nos chega: “Mecanismos criam e refinam constantemente uma teoria sobre quem somos e sobre o que vamos fazer ou desejar seguir” (Pariser, 2012, p. 14). Continuar lendo

Apontamentos para as Filosofias do Processo I: entre a substância e o devir

por Juliana Rocha Franco

Notes for the Process Philosophies I: between the substance and becoming

[Abstract]

“This Post presents the primacy of the idea of substance in Western philosophy. Several authors (Rescher, 1996, 2000, Hartshorne, 1998; Browning & Myers, 1998 among others) argue that since the time of Aristotle, Western metaphysics have had a pronounced bias in favor of substance idea. Nonetheless, “Process Philosophy” is a neoclassical tradition that exists alongside the classic substantialist approach, since the beginning of Western philosophy and the East as well. Process Philosophy is a metaphysical view  (Browning & Myers 1998 p. xii) that refers to all worldviews that understand the universe, not as substance and causality, but as process and creativity. One of the consequences of the primacy of substances is the belief of a “self” as substance. Butler (2008) analyzing processes of gender constitution, points out how the metaphysics of substance could be translated to the metaphysics of human subject. Also, through a narrow interpretation of the Cartesian thinking, it conceived an anthropocentric substantialist ontology, with no place for nonhuman sentient beings, understood as automata incapable of thinking. The post concludes presenting some common elements that characterize Process Philosophy.”


O primado da Substância

O termo substância é uma tradução da palavra latina substantia que significa aquilo que está sob, que fundamenta. Substantia deriva do grego “ousia”(οὐσία) que, em português, significa substância ou essência[1]. Segundo Chauí (1995, p.290) substância é o ser que existe em si e por si mesmo, que subsiste em si e por si mesmo. A autora afirma que uma substância não se define pelo conjunto de atributos essenciais e acidentais que possui, mas pelo seu modo de existir.

A ideia de substância encontra-se no centro da metafísica Aristotélica que a relaciona com a questão do ser. É no livro Metafisica que Aristóteles[2] (2015, 1028b 5) se propõe a responder a pergunta o que é a substância. Para ele, substância é a resposta à questão “o que é?”:

Por um lado, significa o que uma coisa é e um isto, e pelo outro de que qualidade ou quantidade ou qualquer das outras coisas assim predicadas. Mas embora do que é se fale assim destas várias formas, é claro que a coisa primária que existe é o que a coisa é, o que significa sua substância. (1028a12-14). Continuar lendo

A ontologia sem metafisica ou onde está a epistemologia?

por Juliana Rocha Franco

É já lugar comum que o que une os membros do movimento Realismo Especulativo é uma oposição ao que Meillassoux denominou Correlacionismo. O “movimento” filosófico se constitui em uma tentativa de superar tanto o “Correlacionismo”, bem como o que eles denominam “filosofias de acesso” inspiradas na tradição de Immanuel Kant.

Ora, mas se o Correlacionismo afirma que o pensamento não pode ter acesso a coisas elas mesmas, apenas para as coisas como elas aparecem para nós, o que eles nos propõem no lugar? Certamente não seria um realismo naïve. Bryant  (2012) afirma que um mal-entendido fundamental e muito comum sobre o que é reivindicado e discutido pela OOO é a confusão entre realismo epistemológico e realismo ontológico. Para o autor, Realismo epistemológico é a tese de que nós podemos representar outras pessoas no mundo como elas são. Realismo ontológico é a tese de que as entidades são irredutíveis às nossas representações deles. Continuar lendo