Cômputo raro na Terra

por Alessandro Mancio de Camargo

[Abstract] In order to quit of any denials about climate change, how quantum computing can lead a new Earth beat? Based thereon, the posting remark technological products, such as those obtained from rare earth elements used as raw material in nanotechnological components, which are fundamental for the new data processing machines to solve in seconds, and not in years, complex climate problems.

O clima na Terra segue alterado de forma sem precedentes em milhares de anos na história da natureza, senão a centenas de milhares de anos. E algumas dessas mudanças postas em movimento – como o aumento contínuo do nível do mar – são irreversíveis ao longo das próximas centenas a milhares de anos [1].

O alerta faz parte de um primeiro rascunho do AR6 (Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) divulgado no início de agosto pelo IPCC. Publicado para discussão entre os formuladores de políticas públicas, o documento antecipa dados da versão final do trabalho, a ser divulgada em fevereiro de 2022.

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Um vírus é um zumbi

por Adriano Messias

[Abstract] “For some years, I have been developing a perspective that considers viruses closer to zombies. From the 2020 pandemic, I reorganized part my considerations to take them forward in a new breath discussing germs in a broad way and their impact on civilization. Unfolding my main axis, I also allude to the role of the media with regard to the imaginary and symbolic of the pandemic, discussing semiotic, epidemiological and anthropological approaches. My aim is to think how we could be more or less prepared to face pathogens from now on and how responsible we are whenever a pandemic strikes the planet.

Duas observações

Este texto é parte de um livro que está em processo de escrita. Fiz alguns recortes para fins desta publicação e deixo duas observações: 1) o termo SARS-CoV-2 provém do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave do coronavírus 2). Ainda assim, é bem comum que se trate o vírus pelo nome da doença (covid-19) e vice-versa. A importância da taxonomia para os vírus é que, com isso, se evitam preconceitos ligados às doenças: no início de 2020, o covid-19 foi chamado de “vírus chinês”. A sífilis já foi denominada de “pústula francesa”; a influenza aviária de 1918 permanece até hoje como “gripe espanhola”, enquanto a aids era a “doença gay” nos anos de 1980. 2) Quando surgiu a doença causada pelo “novo coronavírus”, o nome era uma sigla em que “Co” se referia a “corona”, “vi” a “vírus”, “d” a doença. O numeral sempre indica o ano em que a enfermidade aparece pela primeira vez. Então, a grafia obedecia à regra das siglas em língua portuguesa (de onde Covid-19, com maiúscula). Com o passar do tempo, porém, a mesma sigla passou a designar a doença causada pelo vírus e se tornou, por isso, substantivo comum (grafado com “c” minúsculo). O mesmo raciocínio se aplica a outras doenças e síndromes, como a aids que, nos primeiros anos, se escrevia Aids (cf. LESNEY, 2020).

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Brotam brotinhos na tarde feita
Só de suspiros:
O amor é um vírus…
Mário Quintana

1. Dando forma ao caos

Começo este texto salientando o valor icônico do signo no caso da veiculação mediática de imagens do covid-19. A mostração (e não demonstração) iconográfica, ilustrativa, geométrica e colorida do “novo” (agora já velho) vírus pelas variadas mídias é algo a ser considerado. Afinal, a rigor, pela física, os vírus sequer teriam cores. Para que alguém veja a cor de um quadro, por exemplo, a fonte de luz tem de incidir sobre ele, refletir-se, e depois atingir nossos olhos. A luz, entretanto, tem um comprimento muito grande para iluminar um vírus (ela varia de 380nm – no caso da violeta – até 750nm – para o vermelho). Um nm (nanometro) é uma medida que equivale a um metro dividido por um bilhão. Em um microscópio óptico, por exemplo, podem ser vistos objetos maiores do que 750nm. Porém, um coronavírus tem o tamanho de 100nm. Dessa forma, ele só pode ser “visualizado” em um microscópio eletrônico, que emprega a tecnologia da reflexão dos elétrons (que são muitíssimo menores, chegando a 0,00000001nm). São eles que permitem ao cientista “desenhar” a forma de um vírus.

Quanto à cor, ela se torna aleatória e vinculada à criatividade dos designers gráficos. Portanto, as imagens do coronavírus responsável pelo covid-19 que vimos em variados veículos da mídia foram obtidas por computação gráfica e, neste sentido, tornaram-se invenções, têm um caráter fictício. Isso já demonstra o enorme cabedal de imaginário que existe sobre os multiformes discursos que foram inferidos a respeito e a despeito do vírus da pandemia de 2020.

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O que é Filosofia Especulativa?– Parte 01

por Rodrigo Petronio

[Abstract]: “This essay has the following objectives: 1. To investigate the main meanings of the concept of speculative philosophy and their respective aspects, authors and works. 2. Distinguish the general and restricted uses of the concept of speculation and speculative philosophy. 3. Explore the relationship between ontology and speculation in the 20th century. 4. Describe the centrality of the concept of infinity and transfinites to speculative philosophy. 5. Emphasize the importance of cosmology and ontology for the renewal of speculative philosophy. 6. Position the new status that speculation assumes in the media theory entitled mesology. 7. Describe the Transdimensional Topologies (TT) that emerge from this new statute. 8. Define this new speculative philosophy’s statute as Future Oriented Philosophy (FOF). 9. Analyze the main changes in the categories of time, space and causality promoted by this new definition of speculation and speculative philosophy.”

 

Especular

A obra A Queda do Céu é um dos mais importantes tratados da metafísica do século XXI. Composta pelo xamã ianomâmi Davi Kopenawa em colaboração com o antropólogo Bruce Albert, temos aqui a cosmologia ianomâmi descrita e explicitada ponto por ponto. Um dos conceitos-operadores centrais dessa cosmologia são os xapiri. Os xapiri são nano-entidade dinâmicas que constituem todo universo, tudo o que existe. Eles se revelam ao xamã sob a forma de nano-humanos, girando sobre espelhos. A dinâmica relacional desses infinitos nano-espelhos transumanos em movimento produz a totalidade do universo. Esta cosmologia pode ser descrita rigorosamente como uma monadologia ianomâmi. Ou Leibniz é que seria um ianomâmi da filosofia europeia? O importante é conceber essa noção de nano-universos e de nano-espelhos como matrizes instauradoras de todas as esferas do ser e do cosmos. Como usinas do real, como diria Nicolai Hartmann. E aqui começamos a adentrar nossa questão central. O termo spec do latim pode ser traduzido como especulação. Etimologicamente, é a raiz de speculum, que significa espelho e, por sua vez, deriva de specere, que significa olhar e observar. O verbo especular seria em termos literais espelhar. Outro sentido adjacente importante ocorre em relação ao termo espécie. A definição de espécies ocorre por meio da observação e, ao mesmo tempo, designa uma certa categorização do observado que produz uma taxonomia: uma distinção dos seres. Outro termo correlato é caverna (spéleos). A espeleologia é a ciência de investigação das cavernas ou de quaisquer ambiente profundos da Terra, como o oceano abissal. Entende-se assim por caverna não apenas a constituição rochosa da geologia, mas quaisquer espaços virtuais desconhecidos. A raiz de spec também se vincula a spe, que significa esperança. Outras línguas retêm a morfologia do latim, como o alemão (Spiegel), o dinamarquês (spejl), o iídiche (שפּיגל, shpigl) e o basco (ispilu). Mesmo em línguas cujo termo espelho deriva de outros radicais, como em inglês (mirror), em francês (miroir) e em árabe (مرآة, mara), parece haver uma convergência para o sentido da raiz latina mir, a mesma de miragem, maravilha e mirar (observar). Uma investigação mais detalhada precisaria levantar em que medida esta estrutura comum tem suas origens na estrutura indo-europeia das palavras com prefixo m’, de onde derivam também mito (mýthos), mudez (mutus), imitação (mimesis) e mundo (mundus), mas este é um campo arenoso e não é meu objetivo me mover por ele aqui. O que me interessa é, por meio de analogias e por meio desta espectral espeleologia do conceito, definir a filosofia especulativa como uma filosofia-espelho e a cosmologia especulativa como a investigação de um universo-espelho. E levantar em que medida a potência deste conceito-imagem pode revelar campos ônticos e epistêmicos inesperados, em um percurso abdutivo e heurístico. Continuar lendo

Securitização da mente

por Alessandro Mancio de Camargo

 [Abstract] “This posting encourages the reflection about the relational logics aimed at the potential of several mental process – as seen in fuzzy domestic garden and forest, equitably linked to complete, deep and interactive networks –, in order to meet and understand ecosystem needs to enhance cooperation between the different modes of relations and cognitive exchanges existing in the Earth.”

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De cunho mais racional, na tradição ocidental, ou instintivo, no pensamento do Oriente, a consciência pode ser entendida como parte da dinâmica que se estabelece entre percepções, impressões, autonomias vinculadas a qualquer acontecimento real ou imaginário. Assim, 14 tipos de manifestações seriam associados a ela, conforme definição do movimento indiano Brahma Kumaris (RIBEIRO, 2013). Mesmo com essa diversidade, especula-se que, em até 50 anos, a consciência poderá ser transferida de um corpo de carbono para uma pastilha de silício ou grafeno a serviço da Inteligência Artificial ou IA (WATSON, 2010). Mas a que preço?

Antes de efetivar a previsão de uma IA forte, no sentido de integrar a consciência de forma plena ao avanço digital, o escopo das manifestações ditas conscientes já está menos diversificado. A taxa de extinção de espécies animais no século XX foi até 100 vezes maior do que teria sido normal sem o impacto das redes tecnológicas criadas posteriormente à Revolução Industrial, por exemplo (CAMARGO, 2018). Acontecimentos como esse levam à uma redução da consciência ecológica à medida que mais e mais espécies são expulsas de seus habitats originais e deixam de atuar em situações corriqueiras da condição humana ou ecossistêmica, tais como coletar os próprios alimentos, germinar, procriar, dedicar mais tempo ao sono. Continuar lendo

Arranjos inteligentes

por Alessandro Mancio de Camargo

[Abstract]

“Smart arrangements. Both the more traditional and the more disruptive languages aim to promote reasonings not necessarily related to the truth of the facts. Thus, fictions have been sustained to universalize all possible kinds of paradigms, even those that are more biased and therefore unfeasible over time. In this framework, intelligent collectives perform reasoning tasks more appropriately than individuals. However, nowadays this only happens if there is training and access to the new dynamic bases of digital culture: blockchain, firmware, biohacking, IoT.”

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Fonte da imagem royaltie free: Pexels/pixabay.com

 

A capacidade humana de criar linguagens, conquistada e compartilhada ao longo de dezenas de milhares de anos em sintonia com a evolução das habilidades cognitivas (CHOMSKY, 2014) – tais como aprendizado, memória, autocontrole do pensamento, comunicação –, garantiu uma vantagem competitiva sem igual no ecossistema. Vide o desenvolvimento da linguagem agrícola, utilizada para promover operações, técnicas e métodos necessários à cultura vegetal e à criação animal para multiplicar a produção de alimentos de forma a abastecer bilhões de pessoas no século XXI (CONWAY, 2003).

Uma explicação plausível para evolução das linguagens é a necessária relação com o outro, independentemente de este ser uma pessoa ou um campo de trigo (CAMARGO, 2016a). Portanto, fato fundamental para expansão e aprimoramento das linguagens é a contínua universalização de suas habilidades por meio de um sistema de transmissão, relação e troca de suas capacidades, particularmente aquelas voltadas a conquistar a atenção e o interesse dos outros. Educação necessária para a sobrevivência em grupo e que segue válida na sociedade em rede (CAMARGO, 2016b). Continuar lendo

Dust Bowl

 

Montagem-Ilustracao-post-TransObjeto_30062017Trator (1910); tempestade de areia; crianças com proteção; seca
(Crédito/Reprodução: http://www.pbs.org/kenburns/dustbowl/legacy/)

 

por Alessandro Mancio de Camargo

[Abstract]:
“Dust Bowl is a climactic phenomenon which for 10 years caused dust storms during 1930s that greatly damaged the ecology and agriculture of the Midwest in US (Texas, Oklahoma, Kansas). Its causes have largely documented in agricultural history. In this post it is used like as a preliminary example of technography.”

“Nós apenas precisamos de alguém com a coragem de dizer o que precisa ser dito”. A frase anunciada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA) Donald Trump faz parte do seu projeto programático para tornar a América poderosa novamente, conforme o livro Great Again: How to Fix Our Crippled America, lançado antes de ele ser eleito e que no Brasil foi traduzido pela Editora Citadel (América Debilitada, 2016).

Esse projeto programático já se posicionava sobre o clima do planeta [1; 2]. “Admito que a mudança climática esteja causando alguns problemas: ela nos faz gastar bilhões de dólares no desenvolvimento de tecnologias que não precisamos”, declarava cerca de um ano antes de anunciar, em maio de 2017, o desembarque do Acordo de Paris, tratado internacional com vistas a reduzir o aquecimento global.   Continuar lendo

O Antropoceno é uma queixa[1]

por Adriano Messias

The Anthropocene is a complaint

[Abstract]

“Semiotics survives in great scope as a field of knowledge and a practice allied to other areas of research. In its productive partnership with psychoanalysis, I find contributions that allow me as a researcher to highlight what I have called “interpretive strata” from an analysis that respects the sign; it is fold-out, multiplicative, infinite in its layers, creator of digressions. Whence comes this great contemporary craving that I identify as a “complaint”, recently made official under the name of Anthropocene? Moreover, what unfolds behind this monstrous epiphenomenon? How the so-called psychoanalytic semiotics helps us to understand it in order to alleviate partially the anguish? Some layers of an archaeological site, now a museum located under the Plaça del Rei in Barcelona, are more than a temporal ordering of facts: rather, they denounce the confusing and distressing interrelation of different desires and directions. There we can find parts of this all-tentacle body called Anthropocene that scientists insist to demarcate since the last few decades. From this perspective, the underground of Barcelona reiterate repeated and sudden changes that our species has caused on the planet: the landscape around the former small and Latin Barcino has been impetuously plowed, mined, mineralized, deforested, excavated, cleared, grazed, burned, planted cultivated, bombed, carbonized, industrialized and untolerated. Not coincidentally, these are all verbs of semiotic and psychoanalytic remission.”

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– El hombre, como bueno simio, es animal social y en él priva el amiguismo, el nepotismo, el chanchullo y el comadreo como pauta intrínseca de conducta ética – argumentaba –. Es pura biología.

– Ya será menos.[2]

Somos primates, básicamente visuales, inteligentes, diurnos, tropicales, forestales y arborícolas. Muchas de nuestras características morfológicas, fisiológicas y etológicas responden a esa definición ecológica del grupo. El que los humanos, y en menor grado otros primates, vivamos ahora en climas, regiones y ecosistemas muy alejados del escenario de nuestra evolución no deja de ser una anomalía, que por otra parte es muy reciente en la relación con la larga historia de los primates.[3]

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De onde vem essa grande angústia contemporânea que identifico como uma “queixa”, no sentido psicanalítico, recentemente oficializada como Antropoceno? E o que se desdobra por trás desse monstruoso epifenômeno?

Cientistas concordaram, no Congresso Internacional Geológico de 2016, na Cidade do Cabo, que o Antropoceno deve ser demarcado a partir dos anos de 1950. Categoricamente, estabelece-se que o Holoceno, o período imediatamente anterior, tenha começado há 12 mil anos, iniciado pela estabilização do clima da Terra com o fim última Era do Gelo, o que permitiu o desenvolvimento das civilizações. Porém, pesquisadores convencionaram que o breve Holoceno já cedeu lugar ao seu apocalíptico sucessor: este último engloba o período em que as atividades humanas dominaram de vez o planeta mediante uma complexa e devastadora maquinaria.[4] Na contramão dos modismos científicos, porém, decidi estender minhas reflexões sobre o Antropoceno para períodos muito anteriores. No momento em que o fazia, minha escrita coincidiu com a bela cidade que se desfolhava ante minhas flâneries, como páginas soltas daquele belo romance de Carlos Ruiz Zafón. Continuar lendo