Inteligência Artificial e controle de pandemias: biopolítica digital e o fim da era do humanismo

por Paola Cantarini

[Abstract]: “In the era of the 4th industrial revolution or of the  industry 4.0, the use of artificial intelligence has become irreplaceable and with no chance of regression. We left the carbon era and entered the silicon era, we left the written language and entered the cyberoral language, with an increase in the intensity of technical interconnections of all species, with the danger of the loss of the social autopoiesis, and, therefore, of the substitution of beings humans by machines and robots, much more efficient and faster. A paradigm shift is even more urgent vis-à-vis the acceleration of time, with its illumination of all paradoxes. Time of digital biopolitics, the end of humanism (Achille Mbembe) and the raise of a suicidal state (Vladimir Safatle), hypermodernity and transhumanism. In an attempt to get rid of old age and death, we forget that we don’t even know how to live and die yet. With that we seek perfection, more beauty and more youth, and precisely the fragility of our human being will be missing, and with that exactly aren´t in danger the features that made us capable of the greatest wonders among with the worst horrors?

Vivemos na sociedade da informação, com excesso de informações e redução ou impossibilidade da comunicação e da utilização, até mesmo na esfera pública, de fake news; acreditamos em imagens técnicas que se afastam dos conceitos e da realidade, sem enxergar tal distanciamento. Distanciamo-nos de nós mesmos, em um labirinto em rota de colisão, deslocando do chão em busca do etéreo, em busca da liberdade sem limites, mas não temos mais como pousar, presos que estamos na pós-história e em prisões virtuais e digitais.

O mais recente uso da inteligência artificial, que vem se destacando em tempos de coronavírus, refere-se ao controle de pandemias, ao cumprimento pela população de medidas de quarentena, bem como ao monitoramento do surto e à aceleração de testes de medicamentos Há empresas e cientistas da computação como a Northeastern University, por meio da plataforma HEALTHMAP, que trabalham na área de vigilância global de doenças.

Em 31.03.2019, a empresa canadense Blue-Dot, utilizando-se de IA para revisar mídias e redes sociais, detectou a propagação de uma doença incomum na China, em Wuhan, antes mesmo das primeiras manifestações da ONU e da OMS. Tal vírus, que também poderia ser denominado de SARS 2 – Severe Acute Respíratory Syndrom – nada tem de novidade, sendo uma segunda variação do anterior SARS 1, surgido em 2003, não tendo os países aproveitado tal ocasião para estudar o então vírus desconhecido e tomar medidas protetivas ou realizar reformas estruturais imprescindíveis, como o aumento da proteção ambiental, redução do aquecimento global, proteção da Amazônia, melhora da condição de vida da população em estado de vulnerabilidade, redução do consumismo desenfreado e a reorganização da economia global de forma independente dos mecanismos de mercado. Continuar lendo

Centro de Pesquisa Stanford HAI vs FAPESP-IBM: inspirações e aprendizados

por Dora Kaufman

[Abstract]: “There are large differences between Stanford HAI and IBM – FAPESP Center – investment volume (1 billion dollars vs. 10 million dollars / 10 years), scientific production and insertion in the field of AI of the American university vs any university in São Paulo, consequently visibility and potential global impact – the common point is the recognition of the relevance of AI in the XXI century society. One aspect, however, can be inspired by Stanford: social impacts are inherent in technological development and must be addressed in each project (rather than in isolation, as social and sustainability projects are usually addressed by companies). New technologies or processes produce macro effects (ethical, social, labor market, business models, skills) and micro effects circumscribed to the application area / region.

 

A universidade de Stanford lançou o Stanford HAI, centro de pesquisa em inteligência artificial (IA), num Simpósio em 18 de março último com a participação de expoentes pesquisadores e empreendedores. No dia seguinte, 19 de março, a IBM e a FAPESP debateram com a comunidade acadêmica paulista o edital para a criação de um centro de pesquisa em IA. Não obstante as diferenças de realidades, motivações e escopos, a coincidência de datas estimula uma reflexão; o ponto em comum das duas iniciativas é o reconhecimento da relevância da IA na sociedade do Século XXI.

Desde os primórdios do campo (1956), Stanford tem tido papel de destaque na formação de parte considerável dos especialistas que atuam em universidades e em empresas mundo afora. Fundado em 1962 por um dos “pais” da IA, John McCarthy, o SAIL (Stanford Artificial Intelligence Lab) tem se  mantido na vanguarda da pesquisa e do ensino, contribuindo com investigações e aplicações inovadoras fundamentais em distintas áreas. O Stanford HAI surge em resposta à pressão da sociedade pelo entendimento e equacionamento dos impactos sociais e éticos, particularmente sobre à comunidade do Vale do Silício. Continuar lendo

Humanidades digitais e agenciamento algorítmico

por Tarcísio Cardoso

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[Abstract]: “Many of us feel a presence of something in the digital culture as a potential sadism and harmful in the social, but from there to rate the internet like “so much free”, “so less controlled”, “the enemy of the good costumes” as if the “anonymity” was the “loss of authority” there is a big difference. Despite the fact that many users are on the world wide web, few of them understand the actors that support it. One of this actors is the Mr. Algorithm, this so less comprehended nonhuman actor that does so much mediations in the network. But society generally does not know much about him. The community of researchers in digital humanities, in turn, aims to understand its capacity to act in the network, composing what it calls socio-technical agency or technical mediation (Latour, 1994). In an attempt to contribute to bring one of the themes that digital humanities have studied  the agency of algorithms , this text seeks to consider this theme as one that can be considered as belonging to the philosophy and sociology of knowledge and technology. The question that motivates this text is: within the digital society, how can algorithms be characterized as knowledge machine?

Em tempos de pós-verdade, fake news, terraplanismo, narcisismo, bolhas e cultura do ódio, acontecimentos como o atentado de Suzano abalam nosso já estremecido tecido social fazendo-nos ver um cenário desolador, mas que, justamente por isso, demanda tratamento científico, filosófico e sociológico. Como jovens dos nossos tempos com dificuldade de socializar, de se relacionar, não só sentem-se excessivamente injustiçados ou angustiados, mas encontram na cultura da internet apoios tão obtusos para alimentar suas versões de vitimização e culpabilização do outro, aumentando suas próprias revoltas e conspirações? Como a cultura da conexão, do acesso à informação, da democratização é também a cultura da invasão, da intolerância e da conspiração?

Questões duras de serem encaradas. Como se não bastassem seus já suntuosos desafios, devemos lembrar que a proliferação de versões sobre esses fenômenos não está isenta, ela própria, de tratamentos conspiratórios. Muitos de nós sentimos a presença de algo na tecnologia digital a potencializar os efeitos sadios e danosos de dilemas humanos. Mas daí a taxar a internet como “livre demais”, “controlada de menos”, “inimiga dos bons costumes” porque o “anonimato” representaria uma “perda da autoridade”, já há uma grande distância. Até porque, apesar de muitos usuários interagirem pela rede mundial, poucos compreendem, de modo minimamente distanciado das conspirações comuns, os atores que a sustentam. Um destes atores é um tal Sr. Algoritmo, este tão falado e tão pouco compreendido ator não-humano que tantas mediações faz na rede e que tantas conspirações suscita na cultura. Sobre ele também a sociedade de modo geral pouco sabe. As pesquisas em humanidades digitais, por sua vez, esforçam-se por tratar a atuação dos algoritmos na rede a partir dos chamados agenciamentos sociotécnicos. Continuar lendo