II Colóquio Realismo Especulativo: desafios do humano na contemporaneidade

evento_RE1

A internet das coisas está hoje sincronizando com uma tendência filosófica que emergiu recentemente sob o nome de “realismo especulativo”. O realismo especulativo — ou filosofia orientada a objeto, ou ainda ontologia orientada a objeto (OOO) — funciona apenas como um guarda-chuva que abriga uma série de autores com tendências distintas e que partem de gêneses também distintas. Alguns são teóricos da literatura e filmes, outros são especialistas em games, outros ainda são ecólogos. Dessa forma, o realismo especulativo vem chamando a atenção mundial em diversos campos, especialmente no campo da arte contemporânea, do design e da arquitetura.

O II Colóquio Realismo Especulativo: desafios do humano na contemporaneidade procura explorar desde os fundamentos desta tendência filosófica, passando pelas críticas a ela, pelas possíveis interfaces com outras teorias filosóficas, chegando às possíveis relações como a arte, a ciência e a vida cotidiana.

II Colóquio Realismo Especulativo: desafios do humano na contemporaneidade
Org. Lucia Santaella

07 de dezembro de 2017 – quinta-feira – a partir das 9h
Rua Caio Prado, 102 – Prédio 4, Auditório 415 (1º andar)
PUC – SP Campus Consolação

*Evento gratuito com emissão de certificado para os participantes

Programação completa em:
https://transobjeto.wordpress.com/agenda/realismo-especulativo/

Realização: Transobjeto
Apoio: PUC-SP e TIDD

A ontologia sem metafisica ou onde está a epistemologia?

por Juliana Rocha Franco

É já lugar comum que o que une os membros do movimento Realismo Especulativo é uma oposição ao que Meillassoux denominou Correlacionismo. O “movimento” filosófico se constitui em uma tentativa de superar tanto o “Correlacionismo”, bem como o que eles denominam “filosofias de acesso” inspiradas na tradição de Immanuel Kant.

Ora, mas se o Correlacionismo afirma que o pensamento não pode ter acesso a coisas elas mesmas, apenas para as coisas como elas aparecem para nós, o que eles nos propõem no lugar? Certamente não seria um realismo naïve. Bryant  (2012) afirma que um mal-entendido fundamental e muito comum sobre o que é reivindicado e discutido pela OOO é a confusão entre realismo epistemológico e realismo ontológico. Para o autor, Realismo epistemológico é a tese de que nós podemos representar outras pessoas no mundo como elas são. Realismo ontológico é a tese de que as entidades são irredutíveis às nossas representações deles. Continuar lendo

A persona estendida e a internet das coisas

roman_theatre_in_bosra__syria

por Eduardo Camargo

  1. A mente estendida

Onde a mente termina e o resto do mundo começa? Como resposta, alguns sustentam que o que está fora do corpo físico está fora da mente. Outros se impressionam com argumentos que sugerem que os significados de nossas palavras estão fora da mente, assim sendo, o externalismo a respeito dos significados implicaria também no externalismo de nossas mentes. Andy Clark, cientista cognitivo e filósofo da mente, propõe uma terceira posição, um externalismo ativo baseado no papel atuante do ambiente na condução de processos cognitivos (Clark, 2011: 220-232). Continuar lendo

Estão chegando os alquimistas semânticos

por Gustavo Rick Amaral

Neste texto, pego carona mais uma vez em temas tratados por Tarcísio em seu post (“Latour é relativista e construtivista?”).  Na verdade, mais do que uma carona. Utilizei as análises elaboradas por Tarcísio para tentar entender o que nos textos de Latour não está muito claro (ao menos para mim). Neste meu texto, pretendo focalizar nalguns aspectos terminológicos, linguísticos das reflexões epistemológicas apresentadas por Latour,sobretudo, em “Ciência em ação” e “Jamais fomos modernos”. Comecemos por esta última obra. Ao ler este livro, tive a nítida impressão de que Latour quer nos provocar com sua escolha de palavras (para nomear suas conceituações). Universalismo particular? Relativismo universal?  (cf. diagramas – Latour, 1994, p. 103). Pode isso, Arnaldo? Como veremos, a regra não é clara. Aliás, talvez nem haja regra alguma. Continuar lendo

OOO: revigorante das formas de se adquirir conhecimento

8c7ea5adca7d2782ed095711a1f0475a

por Alessandro Mancio de Camargo

Assim como a linguagem científica praticada, por exemplo, pelos físicos, a tradição oral — com suas idiossincrasias — avança nos modos de conexão à realidade. Faz isso de forma amplificada por “máquinas desejantes” — parafraseando Guattari (1996, p. 205)— altamente persuasivas. Pós-humano, web 3.0, as interfaces entre a natureza e o corpo. Espaços distintos da sociedade em rede ocupados por objetos sencientes intercomunicantes. As consequências dessa narrativa podem ser interpretadas no premiado Comunicação Ubíqua, de Santaella (2013). Num recorte pessoal do livro, humanos e objetos têm hoje a capacidade de se aproximar de diversas realidades, obter e trocar mais dados sobre elas por meio do diálogo com outros objetos e pessoas, numa velocidade, volume e variedade de informações nunca antes atingidos. O interesse deste post é discutir como, nesse ambiente, revigoram-se diferentes formas de adquirir conhecimento (MATTAR, 2014). Continuar lendo

Breve acerto de contas com a ontologia

por Lucia Santaella

Apesar da diversidade de propostas conceituais e teóricas de cada um dos filósofos do movimento realista especulativo, todos eles convergem rumo a um horizonte comum: desenvolver uma Ontologia Orientada aos Objetos (OOO). Antes de tudo, surge a indagação: o que entendem por objeto? O que chamam de objeto coincide com aquilo que tão corriqueiramente costumamos chamar de coisas? Quanto ao mundo das coisas, Heidegger (1992, p. 2) as tratou com propriedade filosófica: Continuar lendo

Ética achatada e inteligência artificial (IA)

Computer_by_karakarton

por Eduardo Pires de Camargo

Em tempos de computação pervasiva, comunicação ubíqua, internet das coisas e veículos autônomos, dentre tantas possibilidades apontadas pela tecnologia atual, parece-me bastante relevante o tema proposto por Levi Bryant para sua palestra de 18 de outubro de 2012 na Universidade do Texas: Questions for Flat Ethics. Começo o post com uma revisão neutra de suas considerações e encerro com algumas reflexões acerca da IA inserida no contexto de uma ética achatada. Continuar lendo

Uma introdução a Ontologia Orientada aos Objetos

graham-harman_conversation-350x428

por Adelino Gala

Santaella (2013) nos informa que o realismo especulativo aparece como uma nova tendência filosófica em meio à emergência de um mundo permeado de objetos sencientes. Tais objetos têm identidade própria e estão em diálogo entre si e com o mundo. Isso é mostrado também no relatório da União de telecomunicação Internacional com o título de “Internet das coisas” que indica que os computadores intensificarão sua presença e atuação moldando um mundo informacional instalado no real. O realismo especulativo não está preocupado apenas com a existência para além do pensamento, mas avança ao postular que as coisas especulam e busca estudar ainda como essas coisas o fazem. Continuar lendo